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Certa vez, um erudito resolveu fazer ironia comigo. Perguntou-me: «O que é que você leu?» Respondi: «Dostoievski». Ele queria me atirar na cara os seus quarenta mil volumes. Insistiu: «Que mais?». E eu: «Dostoievski». Teimou: «Só?». Repeti: «Dostoievski». O sujeito, aturdido pelos seus quarenta mil volumes, não entendeu nada. Mas eis o que eu queria dizer: pode-se viver para um único livro de Dostoievski. Ou uma única peça de Shakespeare. Ou um único poema de não sei quem. O mesmo livro é um na véspera e outro no dia seguinte. Pode haver um tédio na primeira leitura. Nada, porém, mais denso, mais fascinante, mais novo, mais abismal do que a releitura.
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Nelson Rodrigues
Nelson Rodrigues
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5 comentários:
Querida Leonor, você tinha razão, adorei o texto. Convivo com tantas pessoas que consideram seus títulos acima da sabedoria popular, como se o conhecimento de mundo não fizesse parte desse sistematizado. Sinto compaixão pelos alunos desses pobres e iludidos profissionais, pois creio que eles jamais levarão asas à vida de seus educandos. Muito diferentes de você cara amiga. Beijos com açúcar.
Com certeza sabedoria nada tem a ver com intelectualidade. Por isso gostei tanto do trabalho dos alunos no blog da Gládis - visitem - não basta "ensinar" literatura, história, matemática... é preciso transmitir sensibilidade, e isso só se faz tendo dentro de si, não sai do nada. Nem ligo se pareço infantil: quando me perguntam qual o melhor livro que já li, solto na lata: O pequeno Príncipe - li 6 deles - um em cada fase da vida, ainda vou ler quando chegar na tereira idade!
Ao contrário do que se imagina, ler bem não tem nada a ver com ler literatura. Ler tem a ver com olhar para um texto e realmente entender o que está sendo dito e compreender o que, embora não esteja expresso, é parte integrante do texto. Ler nas entrelinhas, intuir o contexto, isso é LER.
Questionar o que está sendo dito, aquilo que você lê ou vê na TV é uma ferramenta fundamental para viver num mundo onde todo mundo tem uma opinião sobre todas as coisas e essa opinião muitas vezes é apresentada como se fosse a verdade absoluta.
Essa é a verdade que devemos ensinar.
bjs
Oi, Leonor,
É bem verdade. Um livro gera efeitos diversos em nós de acordo com o momento que estamos vivendo. Portanto, sua leitura é sempre nova.
Bjs
Oi? Adorei o seu blog.
Vou linkar você e "roubar" esse post do Nelson Rodrigues.
Gosto muito de "Meus Demônios", de Edgar Morin. Já li quinhentas vezes. E sempre atual.
Beijos.
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