29 de mar. de 2011

O Poema

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. Que será o poema,

essa estranha trama

de penumbra e flama

que a boca blasfema?

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Que será, se há lama

no que escreve a pena

ou lhe aflora à cena

o excesso de um drama?

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Que será o poema:

uma voz que clama?

Uma luz que emana?

Ou a dor que algema?

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Ivan Junqueira

( A Sagração dos Ossos)

28 de mar. de 2011

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Nunca voltarei,

Nunca voltarei porque nunca se volta.

O lugar a que se volta é sempre outro,

A gare a que se volta é outra,

Já não está a mesma gente, nem a mesma luz, nem a mesma filosofia.

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Álvaro de Campos

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25 de mar. de 2011

Janelas

(Djanira)

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Em todas as janelas me debruço,
em todos os abismos
estendo uma corda
e caminho sobre o nada.
Também ando sobre as águas,
subo em nuvens,
galgo intermináveis escadas.
Abro todas as portas
e cavernas com um sopro
ou três palavras mágicas.
Mergulho em torvelinhos,
danço no meio do vento,
pulo dentro da tempestade.
Em cada encruzilhada me sento
e tento arrumar o destino,
estranho castelo de areia.

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Roseana Murray
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