25 de abr. de 2011

cadernos

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não tenho cadernos

tudo o que eu escrevo,

escrevo nas paredes do meu quarto.

Se é para estar presa,

que seja entre quatro poemas..


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24 de abr. de 2011

Convite!



O meu blog O MUNDO ENCANTADO DE CECÍLIA MEIRELES


está fazendo 5 anos.


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21 de abr. de 2011

O RIO

Max Ferguson - "Mr. Gordon", 2000 / Clique AQUI e conheça o site do pintor









O RIO.Ó rios de minha vida:
os que cruzei sem ter visto
e os que fluem, com mais tinta,
no pélago das retinas
de quem agora os recria!.




Não vi o Eufrates e o Tigre,
ou o esfíngico Nilo,
esse que corre por Biblos
e se derrama em estrias
às bordas de Alexandria.





.. E não vi, no Middle East,
o irascível Mississipi,
de que T. S. Eliot disse
ser um deus castanho e altivo,
cuja cadência se ouvia.




nos verdes quintais de abril,
no aroma das uvas híbridas,
no berçário dos meninos
e no óleo das lamparinas
que o duro inverno aqueciam..




De mãos dadas a esse ritmo,
vi o Tâmisa poluído
na Londres dos anos vinte;
vi-lhe as garrafas vazias
e as migalhas de comida,.




um rato a esconder-se, esquivo,
em meio às ervas daninhas.
E ouvi também, mais longínquo,
o riso que, ressequido,
do turvo rio se erguia.[...]




E o que dizer desse rio
que em dois hemisférios cinde
a rendilhada Paris?
O que dizer desse cisne
que Baudelaire viu um dia,.




tão ridículo e sublime,
a sujar as plumas límpidas
nas lajes do Sena esguio,
onde, entre náuseos detritos,
ia, aos tombos, se ferindo?.




Sobre o Arno, o grave e humilde
Ponte Vecchio se equilibra.
Ali, Dante viu Beatriz,
mas nele o amor que cintila
é o de Francesca da Rimini.[...]





Ó Tejo, ó tágides minhas!
Ó Camões sôbolos rios
que por Babilônia singram
e sangram todo o lirismo
de que vive e morre a língua!





.. Ó rio que viu Ulisses
fundar a velha Olisipo,
que depois Lisboa vira,
muito embora não o digam
a Odisséia e a llíada![...]





Falo, enfim, daquele rio
de cujas águas alígeras
ninguém sai igual a si
ou àquilo que está vindo
a ser, mas não é ainda..




Tudo se move. Esta é a sina
de todos, este o castigo
que nos coube, como a Sísifo:
o de sermos o princípio
e o fim, na mesma medida..




Por isso louvei os rios
que não começam nem findam
e que estão sempre fugindo
dessa fraude que os quer hirtos
como alguém que já não vive.



Ivan Junqueira
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16 de abr. de 2011

Liberdade

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Delacroix - A Liberdade conduzindo o povo
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. Nos meus cadernos de escola
Nesta carteira nas árvores
Nas areias e na neve
Escrevo teu nome .

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Em toda página lida
Em toda página branca
Pedra sangue papel cinza
Escrevo teu nome

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Nas imagens redouradas
Na armadura dos guerreiros
E na coroa dos reis
Escrevo teu nome .

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Na selva e no deserto
Nos ninhos e nas giestas
No céu da minha infância
Escrevo teu nome

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Nas maravilhas das noites
No pão branco da alvorada
Nas estações enlaçadas
Escrevo teu nome .

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Nos meus farrapos de azul
No tanque sol que mofou
No lago lua vivendo
Escrevo teu nome .

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Nas campinas do horizonte
Nas asas dos passarinhos
E no moinho das sombras
Escrevo teu nome

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Em cada sopro de aurora
Na água do mar nos navios
Na serrania demente
Escrevo teu nome

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Até na espuma das nuvens
No suor das tempestades
Na chuva insípida e espessa
Escrevo teu nome


Nas formas resplandecentes
Nos sinos das sete cores
E na física verdade
Escrevo teu nome .

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Nas veredas acordadas
E nos caminhos abertos
Nas praças que regurgitam
Escrevo teu nome

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Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Em minhas casas reunidas
Escrevo teu nome

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No fruto partido em dois
de meu espelho e meu quarto
Na cama concha vazia
Escrevo teu nome

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Em meu cão guloso e meigo
Em suas orelhas fitas
Em sua pata canhestra
Escrevo teu nome .

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No trampolim desta porta
Nos objectos familiares
Na língua do fogo puro
Escrevo teu nome

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Em toda carne possuída
Na fronte de meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo teu nome

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Na vidraça das surpresas
Nos lábios que estão atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo teu nome


Em meus refúgios destruídos
Em meus faróis desabados
Nas paredes do meu tédio
Escrevo teu nome

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Na ausência sem mais desejos
Na solidão despojada
E nas escadas da morte
Escrevo teu nome .

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Na saúde recobrada
No perigo dissipado
Na esperança sem memórias
Escrevo teu nome

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E ao poder de uma palavra
Recomeço minha vida
Nasci pra te conhecer
E te chamar

Liberdade
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Paul Éluard
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(Poema escrito em 1942 com o título "Une Seule Pensée
(Tradução de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira )
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15 de abr. de 2011

13 de abr. de 2011

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A paciência de Deus sentou de pernas cruzadas na platibanda da igreja

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Adélia Prado

(O coração disparado – p. 91)

Pintura de Monet

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12 de abr. de 2011

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Zacek Yerka


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Muitas velas, muitos remos.
Âncora é outro falar ...
Tempo que navegaremos
não se pode calcular.

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Cecília Meireles
. ( O rei do mar )


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10 de abr. de 2011

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pirilampeou na noite de outono
no piscar das luzes
o céu virou brinquedo
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Leonor Cordeiro

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9 de abr. de 2011

Querido Mateus


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Querido Mateus .

Palavras que amamos tanto, há muitos anos, dormem em dicionário. Hoje tirei do sono três palavras para dar de presente a você: Livre, Terra e Irmão.
Quando escritas, lê-se poesia; se faladas, são melodia; somadas, fazem novo dia.
Com saudades, despede a
Ana . . .

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Correspondência
Bartolomeu Campos Queirós
Editora Miguilim .

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8 de abr. de 2011

Completo

Wyeth Andrew

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Ando muito completo de vazios.

Meu órgão de morrer me predomina.

Estou sem eternidades.

Não posso mais saber quando amanheço ontem.

Está rengo de mim o amanhecer.

Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.

Atrás do ocaso fervem os insetos.

Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.

Essas coisas me mudam para cisco.

A minha independência tem algemas.

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Manoel de Barros

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7 de abr. de 2011