31 de mai. de 2006

Fala Adélia ...


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Meu coração causa pasmo porque bate
E tem sangue nele e vai parar um dia
E virar um tambor patético
Se falas no meu ouvido:
“Não esqueço você.”
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(Adélia Prado)

26 de mai. de 2006

Aborto

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Foto de Nanã S. Dias
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Minha dor é velha
Como um frasco de essência cheia de pó.
(Álvaro Campos )

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ABORTO
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DEIXAREI QUE MORRA EM MIM AS LEMBRANÇAS QUE JÁ TEMOS
DEIXAREI QUE MORRA EM MIM O FUTURO QUE NÃO VEIO
DEIXAREI QUE MORRA EM MIM TODO O CHEIRO DA CASA
E COM ELE A POSSIBILIDADE DE VIDA .
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Leonor Cordeiro
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20 de mai. de 2006

Novos tempos ...

Comemoração do dia das mães no meu tempo de criança em São Paulo
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DIA DAS MÃES DE 2006:
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Mamãe se arrumando

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Fogão da mamãe

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Mamãe saindo para as compras

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Compras da mamãe

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Filha esperando a mamãe para o almoço

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Presente que a mamãe ganhou do marido

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Prato especial do Dia das Mães !
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16 de mai. de 2006

No caminho , com Maiakóvsk



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NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI
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Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakósvki.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
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Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
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Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
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Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei, porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
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Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas no tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
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E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
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Eduardo Alves da Costa
Niterói, 1936
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9 de mai. de 2006

Tardezinha no interior

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.Fotografia de Lucaz
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TARDEZINHA NO INTERIOR
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GENTE NAS JANELAS TOMANDO A FRESCA
CARROS DOBRANDO ESQUINAS SEM SINAIS
CRIANÇAS CHORAMINGANDO ATRÁS DO CACHORRO
CHEIRO DE GRAMA MOLHADA
FONTE LUMINOSA ACESA
E O SEU ABRAÇO
QUE DÁ COR À NOITE !
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(Leonor Cordeiro)
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8 de mai. de 2006

Domingo

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DOMINGO
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Os domingos passam por mim,
Não pedem licença,
Não perguntam dos meus hábitos,
Passam por mim,
A revelia, autoritários,
Eu não vivo aos domingos,
As lembranças, as cicatrizes
São profundas,
Eu alterei meu calendário,
Hoje eu sou segunda.
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Tonho França.
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5 de mai. de 2006

Poesia de criança ...

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Foto de Jean Chamoux
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A árvore tem medo do machado.
A barata tem medo do chinelo.
A televisão tem medo do curto-circuito.
O espelho tem medo de ser quebrado.
O livro tem medo de ser rasgado.
O carro tem medo da batida.
O sapato tem medo do chiclete.
O chiclete tem medo do sapato.
O aluno tem medo da prova.
É isso que é o medo.
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Francisco
(9 anos)
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4 de mai. de 2006

Humanidade

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Ilustração retirada do blog da querida Burtonesca
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Humanidade
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Hoje tem alguém com saudade
nesse mundo de meu Deus .
Saudade indefinida
sem boca
sem cara
sem roupa .
Pode ser do pai
da avó
da tia
do sobrinho
do jornaleiro da esquina
do quintal
da cerejeira do Japão .
Tem alguém com frio nas mãos
com sono e insônia .
Alguém voando com os pés no chão
Pés de barro ...
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Leonor Cordeiro

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2 de mai. de 2006

Meus rabiscos ...

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.Foto de Antonio M. Pinto da Silva
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Minha alma está fechada e vazia .
Apenas uma criança brinca
No espaço que sobrou
Entre o mundo e eu.
Apenas ela sabe entrar pela janela .
Depois que entra,
Da pra ouvir risos em meio a morte .
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Leonor Cordeiro
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