5 de abr. de 2008

SOU PROVINCIANO


Acabei de saber pelo UOL, que a editora Cosac Naify lançará no dia 12 de abril o livro “Crônicas Inéditas”, formado por 113 textos de Manuel Bandeira.
Bandeira foi um dos poetas que eu amava na minha infância. Procurei uma das suas crônicas só para matar a saudade :
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SOU PROVINCIANO
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SOU PROVINCIANO. Com os provincianos me sinto bem. Se com estas palavras ofendo algum mineiro requintado peço desculpas. Me explico: as palavras “província”, “provinciano”, “provincianismo” são geralmente empregadas pejorativamente por só se enxergar nelas as limitações do meio pequeno. Há, é certo, um provincianismo detestável. Justamente o que namora a “Corte”. O jornaleco de município que adota a feição material dos vespertinos vibrantes e nervosos do Rio, - eis um exemplo de provincianismo bocó. É provinciano, mas provinciano do bom, aquele que está nos hábitos do seu meio, que sente as realidades, as necessidades do seu meio. Esse sente as excelências da província. Não tem vergonha da província, - tem é orgulho. Conheço um sujeito de Pernambuco, cujo nome não escrevo porque é tabu e cultiva grandes pudores esse provincianismo. Formou-se em sociologia na Universidade de Colúmbia, viajou a Europa, parou em Oxford, vai dar breve um livrão sobre a formação da vida social brasileira...Pois timbra em ser provinciano, pernambucano, do Recife. Quando dirigiu um jornal lá, fez questão de lhe dar feitio e caráter bem provincianos. Nele colaborei com delícia durante uns dois anos. Foi nas páginas da A Província que peguei este jeito provinciano de conversar. No Rio lá se pode fazer isso? É só o tempo de passar, dar um palpite, “uma bola”, como agora se diz, nem se acredita em nada, salvo no primeiro boato...
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(Crônica escrita para o Estado de Minas em 12.3.33, reproduzida com o título "Sou provinciano" em Andorinha, Andorinha, textos de Manuel Bandeira, seleção e coordenação de textos de Carlos Drummond de Andrade, Rio de Janeiro, Editora José Olympio, pg. 04.)
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Uma observação:
Relendo essa crônica, achei graça quando ele diz: “provincianismo bocó” . Usei muitas vezes a palavra “bocó” na minha adolescência . Considerando que a crônica de Bandeira foi escrita em 1933, como sou antiga ....
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5 comentários:

Cruzcanhoto disse...

Adorei o teu blogue.

Abraços

http://cruzcanhoto.blogspot.com/

Unknown disse...

Ah Manuel Bandeira...a foto do Rio tá linda. Bom domingo!!!

Anônimo disse...

Bocó? E pedrobó? (rs*) Boa semana! Beijus

Anônimo disse...

Como ele escreve bem, que delícia de texto!
També usei muito a palavra bocó...e pedrobó também (rs).
Um beijo.

Leonor Cordeiro disse...

Para cruzcanhoto:
Obrigada por visitar o meu blog.
Logo visitarei o seu espaço.
Um abraço !

Para Roseane:
De fato a capa do livro está muito bonita. Ele já está a venda.
Mil beijinhos para você !

Para Luma:
Achei muito engraçado você tb conhecer essas palavras (rs rs)pedrobó?? Tb usei ...(rs rs)

Para Maria Augusta:
Gosto muito do Bandeira, desde pequena. As crônicas desse livro além de deliciosas , mostram como era a vida naquela época.
BJS!!