7 de set. de 2008

DESENHO

.

.
DESENHO

Fui morena e magrinha como qualquer polinésia,
e comia mamão, e mirava a flor da goiaba.
E as lagartixas me espiavam, entre os tijolos e as trepadeiras,
e as teias de aranha nas minhas árvores se entrelaçavam

Isso era um lugar de sol e nuvens brancas,
onde as rolas, à tarde, soluçavam mui saudosas...
O eco, burlão, de pedra em pedra, ia saltando,
entre vastas mangueiras que choviam ruivas horas.

Os pavões caminhavam tão naturais por meu caminho,
e os pombos tão felizes se alimentavam pelas escadas,
que era desnecessário crescer, pensar, escrever poemas,
pois a vida completa e bela e terna ali já estava.

Com a chuva caía das grossas nuvens, perfumosa!
E o papagaio como ficava sonolento!
O relógio era festa de ouro; e os gatos enigmáticos
fechavam os olhos, quando queriam caçar o tempo.

Vinham morcegos, à noite, picar os sapotis maduros,
e os grandes cães ladravam como nas noites do Império.
Mariposas, jasmins, tinhorões, vaga-lumes
moravam nos jardins sussurrantes e eternos.

E minha avó cantava e cosia. Cantava
canções de mar e de arvoredo, em língua antiga.
E eu sempre acreditei que havia música em seus dedos
e palavras de amor em minha roupa escritas.

Minha vida começa num vergel colorido,
por onde as noites eram só de luar e estrelas.
Levai-me aonde quiserdes! - aprendi com as primaveras
a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.

Cecília Meireles

(OBRA POÉTICA. Editora Nova Aguilar, p.265-266)

5 comentários:

Sonia Regly disse...

Leonor,
Que lindo!!! Vc combina tudo, imagem, texto com uma maestria admirável!!!! PARABÈNS!!!! Estou encantada.Beijinhos.

Sonia Regly disse...

Leonooooooooorrrrrrr,
Volta logo, estou com saudades de vc!!!! Obrigada pela visitinha lá no Blog, fiquei muito honrada e faliz!!!Muitos beijinhos.

Unknown disse...

Lindo!!! Bom findi. Bjks

Anônimo disse...

Oi, Leonor

Seu blog recebeu o prêmio Dardos. Passa lá em meu blog pra pegar e passar adiante, aumentando a rede.

Bjus

Unknown disse...

Oie...saudades...