.
.
.
[473]
[473]
.
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
.
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
.
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
.
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
.
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
.
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
.
.
Álvaro de Campos
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
.
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
.
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
.
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
.
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
.
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
.
.
Álvaro de Campos
.
6 comentários:
Eu a primeira? Nem acredito!!! Feliz aniversário maninha! Que Deus te abençoe com muitas alegrias, saúde, paz, sucesso e muitas vitórias. Que tal um bolo da Casa da Sobremesa de Campinas? Amo você! Parabéns! Milhões de beijos.Renata.
Leonor, parabéns !!!!
Mais um aninho de vida??? Quantos??? hahahahahaha!!!
Saúde, paz e felicidades !
Noemia
voltei para perguntar: tem bolo??? quero um pedaço....
bjs
Parabéns!!!!! Que DEUS a abençoe plenamente concedendo-lhe tudo o que vc almeja e precisa!!!!! Quero bolooooooooooooo!! Adoro bobo confeitado!!!!
Oi Leonor!
Parabéns, saúde, sucesso e sorte. Sempre. Nós Virginianas, somos ótimas, não? (rs)
beijo grande,
Renatinha:
Quem me dera estar em Campinas e desfrutar um ótimo bolo diet, é o sonho de todo diabético...
Também te amo de montão !!!!!!
Nô,
Obrigada pelos bilhetinhos, você é fogo, nunca esquece a data dos aniversários das amigas.
Bolo? Tentei comer um pedacinho mas não consegui, mas adorei a salada do restaurante ! Obrigada pelo carinho e afeto.
Sonia,
Quer bolo??? Vou mandar um para o Rio só para você ... rsrsrs
Obrigada pelo e-mail, obrigada pelo comentário e pela torcida.
Morri de rir com a sua frase: "Adoro bobo confeitado" hahahahahahahahaha...
bjssssssss
Tina,
Você tb é virginiana??? Então sabe bem como é ... rsrsrsrsrs
Adoro passar o aniversário com as amigas,mil beijinhos para você !!!
Postar um comentário