5 de jun. de 2006

Fala Cecília ....

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AUTO RETRATO
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Se me contemplo,
tantas me vejo,
que não entendo
quem sou, no tempo
do pensamento.
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Vou desprendendo
elos que tenho,
alças, enredos...
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Formas, desenho
que tive, e esqueço!
Falas, desejo
e movimento— a que tremendo,
vago segredo
ides, sem medo?!
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Sombras conheço:
não lhes ordeno.
Como prece
do meu sonho inteiro,
e após me perco,
sem mais governo?!
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Nem me lamento
nem esmoreço:
no meu silêncio
há esforço e gênio
e suave exemplo
de mais silêncio.
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Não permaneço.
Cada momento
é meu e alheio.
Meu sangue deixo,
breve e surpreso,
em cada veio
semeado e isento.
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Meu campo, afeito
à mão do vento,
é alto e sereno:
Amor. Desprezo.
Assim compreendo
o meu perfeito
acabamento.
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Múltipla, venço
este tormento
do mundo eterno
que em mim carrego:
e, una, contemplo
o jogo inquieto
em que padeço.
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E recupero
o meu alento
e assim vou sendo.
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Ah, como dentro
de um prisioneiro
há espaço e jeito
para esse apego
a um deus supremo,
e o acerbo intento
do seu concerto
com a morte, o erro...
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( voltas do tempo
— sabido e aceito —
do seu desterro...)
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Cecília Meireles
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Um comentário:

Chris Rodrigues disse...

Lindo, lindo...
tb sinto sua falta. Trouxe uma big flor fotografada pra vc que postarei esta semana no blog, ok?
Melhoras...querida
Chris
www.de-ponta-cabeca.blogspot.com