25 de jun. de 2008

BANZAI MARIA KAWASHIMA !

INFÂNCIA
Um gosto de amora

comida com sol. A vida
chamava-se "Agora".
(Guilherme de Almeida)


Sra. Maria Kawashima
.
Casamento de Sumiko e Hiroshi


Festa de casamento de Sumiko e Hiroshi
(Eu tinha 11 anos e estava muito feliz ! )
.

Saindo de Pacaembu, passando pela rodovia, virando à direita na altura da Companhia de Força e Luz, seguindo pela estrada até a ponte do córrego, subindo a ladeira, entrando à esquerda e andando mais uns 500 metros, finalmente, eu chegava ao sítio dos Kawashima.
Dona Maria Kawashima era comadre de minha mãe. Uma imigrante batalhadora que com sabedoria, dignidade e muito trabalho, criou os filhos sozinha depois de ter ficado viúva. Com Dona Maria e a sua família, aprendi valores e costumes de uma típica família japonesa daquela época.
A casa simples de madeira, encravada no meio do cafezal ficava em frente ao terreiro onde, na época da colheita, os grãos eram esparramados em camadas finas para a secagem. O verde da plantação toda enfileiradinha fazia zigue zague pela boa terra do oeste paulista. Quando vista de longe pelos meus olhos de menina parecia um grande bordado enfeitado com pontinhos vermelhos do fruto maduro.
Entrar naquela casa era sempre uma alegria, a primeira sala tinha em suas paredes algumas pinturas e várias folhinhas com cenas do Japão. Esparramadas pela mesa ventarolas coloridas eram logo oferecidas aos visitantes para aliviar as quentes tardes da Alta Paulista.
A primeira grande preocupação da anfitriã era oferecer a quem chegava uma mesa farta. Enquanto Dona Maria conversava com minha mãe, suas filhas imediatamente se dirigiam à cozinha para preparar sucos, doces e comidas típicas.
Com Dona Maria aprendi a gostar de alguns pratos da comida japonesa. No pilão (ussu), que ficava perto do tanque, a Darcy batia o arroz com uma grande marreta de madeira (tsuchi). Aos poucos tudo se transformava numa massa e, nas mãos habilidosas da Emília, surgia o moti. O meu doce preferido era o Anko (doce de feijão azuki). Eu me lembro da Darcy e da Emília no quintal perto da cozinha espremendo o azuki num pano branco e fininho para que toda a água fosse retirada. O Anko também estava presente no Mandiu, uma massa de trigo recheada com o doce de feijão. Podia ser cozido ao vapor (Fukashi-mandiu) ou assado (Yaki-mandiu).
Com Dona Maria aprendi a gentileza de saber presentear. Nunca ela visitou minha casa sem levar uma lembrancinha, um pequeno presente, um omiyage.
Dona Maria me ensinou muito mais do que palavras como konnichiwa, konbanwa, sayoonara, okaasan, otoosan, obaasan, ojiisan, arigato gozaimashita. Com ela aprendi o que era guiri. Ela nunca pronunciou essa palavra, mas em seus pequenos gestos demonstrou que o espírito de gratidão (guiri) estava presente em seu coração e no coração da sua família. Esse sentimento nobre que ela oferecia as amigas foi o maior ensinamento que recebi dessa imigrante tão especial na minha infância.
BANZAI MARIA KAWASHIMA ! BANZAI! BANZAI! BANZAI!

4 comentários:

Maria Augusta disse...

Acho que nosso país é abençoado, recebendo com carinho pessoas vindas do mundo inteiro e sempre se interessando pela sua cultura.
Este teu post tão bem escrito ilustra esta interação, é muito bonito.
Um grande beijo.

Sonia Regly disse...

Amiga Leonor,
Linkei seu Blog lá no meu Compartilhando as letras.Agora vou te colocar como fã e favoritos no Blogsblogs,assim o ranking sobe, ok????

Sonia H. disse...

Que experiência de vida fascinante, Leonor!
Eu já disse a você que amo ler os teus posts?
Obrigada por compartilhar esta história de vida tão bonita e marcante.
Beijos e bom fim de semana,

Gabriella Santos disse...

Olá!
É um prazer imenso fazer parte do seu grupo.
Obrigada pelo convite, é uma honra tê-la como leitora do Horizonte Máximo. Peço, se possível, ser linkada no seu blog.
Beijão.