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ANÚNCIOS CLASSIFICADOS
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VENDE-SE uma casa de alabastro
com duas janelas debruçadas
de sol.
Tem um olho de jade voltado para o Norte
e um pomar de pêssegos como seios macios.
Tem mar próprio em trânsito para as ilhas
do mundo, e céu próprio servido por gaivotas;
e uma lua enorme e tropical
para week-ends.
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VENDE-SE grande mansão para colégio
ou asilo, rica de paredes;
tem um telhado como o das tartarugas.
Os corredores são enormes
e do seu pátio central
não parte rua nenhuma.
Os muros do quintal são tão subidos
que nem os cães nem a lua poderão
transpô-los.
E no seu jardim desfila
um esquadrão disciplinado
de árvores sem frutos.
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ALUGA-SE uma casa de alva
com três janelas para o amanhã.
Um rio a contorna ao poente
e os seus jardins têm à noite
a luz indireta dos astros.
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SENHORA, procura-se uma
que tenha os olhos da Gioconda,
que tenha a pele da Madona,
e a pureza de Santa Maria Egipcíaca
e o silêncio de Ofélia sob as águas.
.
AINDA HÁ VAGA numa ilha
para a que há de vir cheia de graça,
a que terá olhos de cinza
e mãos vivas como a estrela da paineira.
Ainda há vaga onde o sol
vem de manhã sobrevoar o canavial.
Onde as palmeiras residem junto ao mar
acenando com os braços aos navios que passam.
Exigem-se referências
e cintura delgada como a haste dos coqueiros.
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MÁQUINA DE ESCREVER —vende-se uma—
que escreve poesia e cartas;
deu corpo a oitenta elegias,
epitáfios e sonetos.
A sua fita é um arco-íris
que dá a cor da pele às palavras.
Dos seus quarenta e dois tipos
escorrem sinais como luzes
acendendo, à noite, numa cidade sem estrelas.
VENDE-SE uma casa de alabastro
com duas janelas debruçadas
de sol.
Tem um olho de jade voltado para o Norte
e um pomar de pêssegos como seios macios.
Tem mar próprio em trânsito para as ilhas
do mundo, e céu próprio servido por gaivotas;
e uma lua enorme e tropical
para week-ends.
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VENDE-SE grande mansão para colégio
ou asilo, rica de paredes;
tem um telhado como o das tartarugas.
Os corredores são enormes
e do seu pátio central
não parte rua nenhuma.
Os muros do quintal são tão subidos
que nem os cães nem a lua poderão
transpô-los.
E no seu jardim desfila
um esquadrão disciplinado
de árvores sem frutos.
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ALUGA-SE uma casa de alva
com três janelas para o amanhã.
Um rio a contorna ao poente
e os seus jardins têm à noite
a luz indireta dos astros.
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SENHORA, procura-se uma
que tenha os olhos da Gioconda,
que tenha a pele da Madona,
e a pureza de Santa Maria Egipcíaca
e o silêncio de Ofélia sob as águas.
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AINDA HÁ VAGA numa ilha
para a que há de vir cheia de graça,
a que terá olhos de cinza
e mãos vivas como a estrela da paineira.
Ainda há vaga onde o sol
vem de manhã sobrevoar o canavial.
Onde as palmeiras residem junto ao mar
acenando com os braços aos navios que passam.
Exigem-se referências
e cintura delgada como a haste dos coqueiros.
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MÁQUINA DE ESCREVER —vende-se uma—
que escreve poesia e cartas;
deu corpo a oitenta elegias,
epitáfios e sonetos.
A sua fita é um arco-íris
que dá a cor da pele às palavras.
Dos seus quarenta e dois tipos
escorrem sinais como luzes
acendendo, à noite, numa cidade sem estrelas.
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Alberto Carvalho da Silva, A FÉNIX REFRATÁRIA - 1959
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Alberto Carvalho da Silva, A FÉNIX REFRATÁRIA - 1959
5 comentários:
Lindo poema, ah se todos os classificados fossem assim, poéticos e capazes de tocar o mais fundo de nossas almas.
Abraços meus
Muito legal, trazendo poesia a algo que normalmente é insípido e funcional, como os anúncios classificados.
As palavras continuam dançando divinamente aqui no teu cantinho.
Um grande beijo.
Eu quero a máquina de escrever...eh eh eh. E a casa, claro. Amiga tenha uma maravilhoso final de semana!
O singelo que se faz poema. O anúncio da máquina de escrever é o que há de mais lindo.
Ayan
Como é bacana ser poeta! Tirar poesia de todos os cantos...
beijos
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