O RIO.Ó rios de minha vida:
os que cruzei sem ter visto
e os que fluem, com mais tinta,
no pélago das retinas
de quem agora os recria!.
os que cruzei sem ter visto
e os que fluem, com mais tinta,
no pélago das retinas
de quem agora os recria!.
Não vi o Eufrates e o Tigre,
ou o esfíngico Nilo,
esse que corre por Biblos
e se derrama em estrias
às bordas de Alexandria.
ou o esfíngico Nilo,
esse que corre por Biblos
e se derrama em estrias
às bordas de Alexandria.
.. E não vi, no Middle East,
o irascível Mississipi,
de que T. S. Eliot disse
ser um deus castanho e altivo,
cuja cadência se ouvia.
o irascível Mississipi,
de que T. S. Eliot disse
ser um deus castanho e altivo,
cuja cadência se ouvia.
nos verdes quintais de abril,
no aroma das uvas híbridas,
no berçário dos meninos
e no óleo das lamparinas
que o duro inverno aqueciam..
no aroma das uvas híbridas,
no berçário dos meninos
e no óleo das lamparinas
que o duro inverno aqueciam..
De mãos dadas a esse ritmo,
vi o Tâmisa poluído
na Londres dos anos vinte;
vi-lhe as garrafas vazias
e as migalhas de comida,.
vi o Tâmisa poluído
na Londres dos anos vinte;
vi-lhe as garrafas vazias
e as migalhas de comida,.
um rato a esconder-se, esquivo,
em meio às ervas daninhas.
E ouvi também, mais longínquo,
o riso que, ressequido,
do turvo rio se erguia.[...]
em meio às ervas daninhas.
E ouvi também, mais longínquo,
o riso que, ressequido,
do turvo rio se erguia.[...]
E o que dizer desse rio
que em dois hemisférios cinde
a rendilhada Paris?
O que dizer desse cisne
que Baudelaire viu um dia,.
que em dois hemisférios cinde
a rendilhada Paris?
O que dizer desse cisne
que Baudelaire viu um dia,.
tão ridículo e sublime,
a sujar as plumas límpidas
nas lajes do Sena esguio,
onde, entre náuseos detritos,
ia, aos tombos, se ferindo?.
a sujar as plumas límpidas
nas lajes do Sena esguio,
onde, entre náuseos detritos,
ia, aos tombos, se ferindo?.
Sobre o Arno, o grave e humilde
Ponte Vecchio se equilibra.
Ali, Dante viu Beatriz,
mas nele o amor que cintila
é o de Francesca da Rimini.[...]
Ponte Vecchio se equilibra.
Ali, Dante viu Beatriz,
mas nele o amor que cintila
é o de Francesca da Rimini.[...]
Ó Tejo, ó tágides minhas!
Ó Camões sôbolos rios
que por Babilônia singram
e sangram todo o lirismo
de que vive e morre a língua!
Ó Camões sôbolos rios
que por Babilônia singram
e sangram todo o lirismo
de que vive e morre a língua!
.. Ó rio que viu Ulisses
fundar a velha Olisipo,
que depois Lisboa vira,
muito embora não o digam
a Odisséia e a llíada![...]
fundar a velha Olisipo,
que depois Lisboa vira,
muito embora não o digam
a Odisséia e a llíada![...]
Falo, enfim, daquele rio
de cujas águas alígeras
ninguém sai igual a si
ou àquilo que está vindo
a ser, mas não é ainda..
de cujas águas alígeras
ninguém sai igual a si
ou àquilo que está vindo
a ser, mas não é ainda..
Tudo se move. Esta é a sina
de todos, este o castigo
que nos coube, como a Sísifo:
o de sermos o princípio
e o fim, na mesma medida..
de todos, este o castigo
que nos coube, como a Sísifo:
o de sermos o princípio
e o fim, na mesma medida..
Por isso louvei os rios
que não começam nem findam
e que estão sempre fugindo
dessa fraude que os quer hirtos
como alguém que já não vive.
Ivan Junqueira
.
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que não começam nem findam
e que estão sempre fugindo
dessa fraude que os quer hirtos
como alguém que já não vive.
Ivan Junqueira
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3 comentários:
Desejo-lhe uma Páscoa feliz.
Abraço.
Ivan faz seu percurso pós-Rimbaud. Um Barco Embriagado da nova era.
Abraços!
Que bom é receber a deliacadeza do seu blog.
Abraço,
Graça Freire
www.poesiaeprosapopeia.blogspot.com
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