
16 de dez. de 2009
(sobre o escrever...)

13 de dez. de 2009
Poema da buganvília

pendente deste muro da Calçada da Graça.
Produz uma semente que faz esquecer os jornais, o emprego e a família,
e além disso tudo atapeta o passeio alegrando quem passa.
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Mas antes desse dia há-de secar a buganvília
e o varredor há-de levar as flores secas para o monturo.
Depois cairá o muro.
E como o tempo passa
mesmo contra a vontade,
também há-de acabar a Calçada da Graça
e o resto da cidade.
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Então, quando nada restar, nem o pó de um sorriso
que é o mais leve de tudo que se pode supor,
será esse o momento de o poema ser flor,
mas já não é preciso.
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António Gedeão
2 de dez. de 2009
29 de nov. de 2009
(sobre a angústia ...)
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[490]
Esta velha angústia,
Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.
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Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.
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Um internado num manicômio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicômio sem manicômio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos.
Estou assim...
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Pobre velha casa da minha infância perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.
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Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer! P
or exemplo, por aquele manipanso
Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.
Era feiíssimo, era grotesco,
Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.
Se eu pudesse crer num manipanso qualquer —
Júpiter, Jeová, a Humanidade —
Qualquer serviria,
Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?
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Estala, coração de vidro pintado!
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Álvaro de Campos
(Fernando Pessoa - Obra Poética - Volume único, p.390-391)
27 de nov. de 2009
25 de nov. de 2009
Para Emília Miranda ...
24 de nov. de 2009
12 de nov. de 2009
Nascimento do poema
7 de nov. de 2009
Josué Montello...
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O esquecimento é uma forma de silêncio. De silêncio absoluto. Vem com o tempo, que nos rói a memória. Pode ser um bem, pode ser uma mal. Apaga tudo, reduzindo a escrita ao papel em branco, com a sua lição de humildade.
Por isso mesmo, todo escritor, no começo da vida literária, deveria fazer um estágio de velhas revistas. Ali, no volver de cada folha, há sempre à nossa espera uma lição a recolher. Quanto ruído inútil em torno de certos nomes e de certas obras!
Andei folheando, de ontem para hoje, uma coleção de Fon-fon, entre 1929 e 1934. Ninguém mais famoso do que Bastos Portela. Do que Martins Capistrano. Do que Mário Poppe. Este último, crítico literário. Todos mudos. E esquecidos. Todos. Nem um deles chegou até nós.
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Josué Montello - Diário Completo (Volume I), p.1253
6 de nov. de 2009
Portinari...

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5 de nov. de 2009
4 de nov. de 2009
O apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios.
2 de nov. de 2009
La carencia
29 de out. de 2009
ta_manco
27 de out. de 2009
O lutador

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Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
como um javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.
Deixam-se enlaçar,
tontas à carícia
e súbito foge
me não há ameaça
e nem há sevícia
que as traga de novo
ao centro da praça.
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Insisto, solerte.
Busco persuadi-las.
Ser-lhes-ei escravo
de rara humildade.
Guardarei sigilo
de nosso comércio.
Na voz, nenhum travo
de zanga ou desgosto.
Sem me ouvir deslizam,
perpassam levíssima
se viram-me o rosto.
Lutar com palavras
parece sem fruto.
Não têm carne e sangue…
Entretanto, luto.
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Palavra, palavra
(digo exasperado),
se me desafias,
aceito o combate.
Quisera possuir-te
neste descampado,
sem roteiro de unha
ou marca de dente
nessa pele clara.
Preferes o amor
de uma posse impura
e que venha o gozo
da maior tortura.
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Luto corpo a corpo,
luto todo o tempo,
sem maior proveito
que o da caça ao vento.
Não encontro vestes,
não seguro formas,
é fluido inimigo
que me dobra os músculos
e ri-se das normas
da boa peleja.
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Iludo-me às vezes,
pressinto que a entrega
se consumará.
Já vejo palavras
em coro submisso,
esta me ofertando
seu velho calor,
aquela sua glória
feita de mistério,
outra seu desdém,
outra seu ciúme,
e um sapiente amor
me ensina a fruir
de cada palavra
a essência captada,
o sutil queixume.
Mas ai! é o instante
de entre
abrir os olhos:
entre beijo e boca,
tudo se evapora.
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O ciclo do dia
ora se conclui e o inútil duelo
jamais se resolve.
O teu rosto belo,
ó palavra, esplende
na curva da noite
que toda me envolve.
Tamanha paixão
e nenhum pecúlio.
Cerradas as portas,
a luta prossegue
nas ruas do sono.
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Carlos Drummond de Andrade - Nova Reunião, p. 94-97
26 de out. de 2009
23 de out. de 2009
A canção do tédio

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21 de out. de 2009
Procura da poesia
Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
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Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
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Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem; rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
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O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
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Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
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Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
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Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
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Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
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Repara:
ermas de melodia e conceito,
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
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Carlos Drummond de Andrade – p. 111 e 112 - Nova Reunião: 19 livros de poesia - Editora José Olympio
20 de out. de 2009
18 de out. de 2009

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Josué Montello - Diário Completo (VolumeI), p. 1254
16 de out. de 2009
Breve encontro
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13 de out. de 2009
10 de out. de 2009
Leonor

Centenas de versos se enfileiraram
na soleira da porta.
Minha dor impede
que as palavras
quebrem o silêncio
dando significado às coisas.
O reino da solidão se instalou.
Estranha maneira de sobreviver a peste.
Leonor Cordeiro
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Presente que recebi do querido poeta José Carlos Brandão :
Leonor, versifiquei à minha maneira os seus versos. Lembre-se que continuam seus. Este é um exercício de poetar, em solidariedade:
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Os versos são cordeiros à soleira da porta.
Convivo com a minha dor e o frio do silêncio.
Sou rei da solidão sem palavras, sem sentido.
Sou estranho a mim mesmo, mas, solerte, sobrevivo.
José Carlos Brandão
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4 de out. de 2009
Gracias a La Vida
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15 de jul. de 2009
7 de jul. de 2009
28 de jun. de 2009
Bilhetinho...
18 de jun. de 2009
17 de jun. de 2009
Exausto
14 de jun. de 2009
4 de jun. de 2009
Minhas amigas blogueiras e as suas palavras...
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Hercília Fernandes
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3 de jun. de 2009
Vale a pena acompanhar este blog !

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Viver pouco mas
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Saudade da maré-cheia,
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a palavras ambíguas...
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a reticências de punhos
de cromos / de tombos
de línguas...”
(Hercília Fernandes)
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tenho um lirismo
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ode à fuga
fugir às vezes é inventar estradas
em pleno pântano
e pontes sobre areia movediça.
(Adelaide Amorim)
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URDUME
disfarço a minha
incompetência:
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Não sei desatar_nós
(Lou Vilela)
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há uma hora fugaz em que tudo conspira
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9. O blog de Evelyne Furtado:
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RUMO
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Ao livre desmando
De tua palma.
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(Evelyne Furtado)
10. O blog da
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PEREGRINOS
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Quem quer que seja
o senhor de óculos
a mulher carpideira
a velha senhora
a criança magricela
o padre, a moça
a sóror namoradeira
pouco importa
se justos ou culpados
o índio, o negro
o patrão, o empregado
o rico, o pobre
o poeta, o soldado
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há de pousar na árvore do mundo
na boa companhia de anjos e pássaros
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(Graça Graúna)
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ANIVERSÁRIO
Hoje meu pai faz anos
dormindo sua morte,
mas não para sempre.
(José Carlos Brandão)
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como quem busca o sono.
Morrerei antes da aurora.
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Feixe de flores
Guirlanda perfumada
Encanta a abelha
(Renata Cristina)
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Da janela nua
E vaga na tela.
Raio retardado de estrela
Rastro de lua, o olhar
Repara a paisagem familiar,
Perdida no vácuo
De uma saudade prévia
Suspensa na passarela da partida.
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15. O blog da Dalva M Ferreira: Poesias Soltas
muito, muito, muito,
Só olhando o ocaso
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(Dalva M. Ferreira)
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