29 de out. de 2010
23 de out. de 2010
2 de out. de 2010
Eugénio...
28 de set. de 2010
8 de set. de 2010
Epílogo...

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Finda a leitura, o livro está completo
em sua solidão mais-que-perfeita
de couro falso e íntimo papel.
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Lá fora, o mundo segue, arquitetando
as mesmas contingências costumeiras
que nunca esbarram numa irrefutável
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conclusão que se possa resumir
em três letras letais, inalienáveis.
Que paz será possível nessa selva
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sem índices, prefácios, rodapés?
indaga, da estante mais excelsa,
o livro. Porém, nada disso importa,
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se todas as dúvidas se dissipam,
com tudo mais, quando o bibliotecário
apaga as luzes, sai e tranca a porta.
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Paulo Henriques Britto
4 de set. de 2010
1 de set. de 2010
O aprendiz de poesia

Um dia conheci um poeta como mandam as regras, com livro publicado e tudo o mais. Chamava-se João Lyra Filho, era moço nortista, apaixonado, e recitava Augusto dos Anjos por trás de uma cadeira. Augusto dos Anjos! Como me chocava aquela ousadia de palavras, a misturar a miséria ao sublime, o esterco à estrela, a podridão do túmulo à beleza da vida! Preferia Adelmar, para quem, naquele tempo, voltavam-se os olhos fiéis de João Lyra Filho como os do sacristão para o padre.
Certa vez, depois de uma noite de angústia, resolvi mostrar-lhe meus versos. Reunira-os sob o nome de "Foederis arca". Mas o poeta não gostou. Disse-me de modo brando que desistisse daquilo. Falou-me da predestinação poética, que eu não tinha. Meu negócio devia ser outro. Faltava-me aquele imponderável que os amantes do belo representam esfregando sutilmente a polpa do polegar contra a dos outros dedos, mas não como para indicar o vil metal: mais devagar, como a destilar a própria substância imanente da arte.
O poetinha aprendiz desistiu?
Coisíssima nenhuma! Prossegui firme, inabalável, entre alexandrinos, decassílabos e redondilhas, a perpetrar odes, sonetos, elegias, éclogas, cromos e acrósticos que dava fielmente às namoradas que fui semeando, da Gávea a Sabará.
Era o martírio da poesia, em todo o meu desvario.
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Era tal o mistério dessa noite que agora mesmo, escrevendo na minha sala noturna, sinto os cabelos se me içarem de leve, como se fosse sentir novamente sobre eles a mão macia da lua cheia.
Deixei Octavio de Faria no seu bonde de volta e subi Lopes Quintas, rumo a casa. O sossego era perfeito, total o sono do mundo. Só às vezes, subitamente, dos espaços descia um braço de vento que varria as folhas secas da rua e empinava papéis velhos como hipocampos. Transpus, ansiado, a distância familiar que me levava para alguma coisa que sentia vir mas não sabia o que era. Em casa, galguei rápido as escadas para o meu quarto no primeiro andar, e fui sentar-me ofegante à escrivaninha antiga, a mesma que tenho hoje, a mesma que suportou na infância o peso da minha ambição de ser poeta. A janela estava aberta, e em sua moldura a lua viera se postar, os olhos cravados em mim.
Não sei como foi, mas sei que foi diferente de tudo o que sentia antes. Meus ouvidos, como conchas, pareciam recolher os ruídos mais longínquos do mar que estilhaçava em mim. Ouvi o sopro da noite, o cair das folhas, o germinar das plantas que boliam fora, na mata próxima ao Corcovado, e ali perto, no jardim. Pombas vazaram do meu coração, deixando-me dentro, a se debater, a grande ave inimiga que me feria com suas asas querendo sair também, fugir, voar para longe. Senti-me sem peso, sem dimensão, sem matéria. Meu ser volatilizou-se para a lua, transformado ele próprio em substância lunar. E comecei a escrever como nunca dantes, liberto de métrica e rima, algo que era eu mas que era também diferente de mim; algo que eu tinha e de que não participava, como um fogo-fátuo a crepitar da minha carne em agonia.
Linha por linha, como psicografado, o poema – o meu primeiro poema – começou a brotar de mim.
O ar está cheio de murmúrios misteriosos...
*
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Há algum tempo atrás terminei os trabalhos de correção de uma coletânea de meus poemas, a sair proximamente. Lembrei-me do meu primeiro poema, do primeiro poema em que me vi criando poesia, transformando a natureza, sendo a voz que existia em mim e não era eu. Estudei longamente a possibilidade de colocá-lo na seleção, mas não houve jeito. Era ruim demais. Mas, curioso! senti a forma como a querer, em vão, segredar-me imponderáveis.
Tive saudades do tempo em que a poesia para mim era isso: a noite, com suas vozes, a lua com seus véus, o silêncio noturno da terra a rolar no infinito. Tive saudades de Júlio Dantas, Adelmar Tavares, João Lyra Filho. De repente, a poesia fez-se tão exigente, o poeta fez-se tão lúcido...
Por que tiveste que passar, poesia inocente, poesia ruim, que eu fazia com os olhos nos olhos da lua? Por que morreste e deixaste o poeta calmo, firme, sóbrio dentro da noite sem mistério?
30 de ago. de 2010
Três dias com Guilherme de Almeida...
29 de ago. de 2010
Festival da Palavra
Três dias com Guilherme de Almeida...
O BOÊMIO
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Cigarro apagado
no canto da boca, enquanto
passa o seu passado.
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Guilherme de Almeida
in Encantamento, Acaso, Você. Editora UNICAMP, 2002, p.237
27 de ago. de 2010
26 de ago. de 2010
25 de ago. de 2010
Meus amigos blogueiros e as suas palavras...

Na terceira ordem do dia tu me disseste:
Vai, Assis, cumprir teus poemas em letargia
Eu pus palavras na algibeira e forjei um alforje
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Carregado de metalinguagem,
De girassóis e silêncio
De muitas repetições necessárias
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Para que o verso sempre soe diferente
24 de ago. de 2010
A um passarinho
22 de ago. de 2010
Éugenio...
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Que fizeste das palavras?
Que contas darás tu dessas vogais
de um azul tão apaziguado?
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E das consoantes, que lhes dirás,
ardendo entre o fulgor
das laranjas e o sol dos cavalos?
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Que lhes dirás, quando
te perguntarem pelas minúsculas
sementes que te confiaram?
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Eugénio de Andrade
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20 de ago. de 2010
18 de ago. de 2010
Três dias com Florbela Espanca e Marcos Assumpção...
Terceiro dia...
DESEJOS VÃOS
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Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta a vastidão imensa!
Eu queria ser a pedra que não pensa,
A pedra do caminho rude e forte!
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Eu queria ser o Sol, a luz imensa,
O bom do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!
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Mas o Mar também chora de tristeza…
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!
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E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as pedras… essas… pisa-as toda a gente! …
.Florbela Espanca
17 de ago. de 2010
Três dias com Florbela Espanca e Marcos Assumpção...
Segundo dia...
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Mentiras
Aí quem me dera uma feliz mentira
Que fosse uma verdade para mim!
J. Dantas
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Tu julgas que eu não sei que tu mentes
Quando o teu doce olhar pousa no meu?
Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?
Qual a imagem que alberga o peito meu?
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Ai, se o sei, meu amor! Em bem distingo
O bom sonho da feroz realidade...
Não palpita d´amor, um coração
Que anda vogando em ondas de saudade!
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Embora mintas bem, não te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais
O gelo de teu peito de granito...
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Mas finjo-me enganada, meu encanto,
Que um engano feliz vale bem mais
Que um desengano que nos custa tanto!
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Florbela Espanca
15 de ago. de 2010
Três dias com Florbela Espanca e Marcos Assumpção...
Primeiro dia...
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AMAR
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!
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.Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!.
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
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E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
Florbela Espanca
11 de ago. de 2010
Minhas amigas blogueiras e as suas palavras...
Sônia Brandão
10 de ago. de 2010
8 de ago. de 2010
Cassiano Ricardo...
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Cassiano Ricardo
7 de ago. de 2010
As palavras

as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
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Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
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Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
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Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
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Eugénio de Andrade
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6 de ago. de 2010
Hoje é dia do poeta do Bexiga !
Há cem anos nascia Adoniran Barbosa, o poeta do povo, o sambista dos excluídos.
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Continue vivo Adoniran, pegue o trem das onze e volte para casa!
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5 de ago. de 2010
4 de ago. de 2010
Maria Limeira...
2 de ago. de 2010
Final de viagem...

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em meio a aridez da estrada
a plantação de girassol
25 de jul. de 2010
Azul
Tropeçou no sol da manhã
e mergulhou no azul do outono
Helena Kolody
23 de jul. de 2010
sobre a arte...
16 de jul. de 2010
Sobre a poesia...

Sophia de Mello Breyner
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9 de jul. de 2010
Minhas amigas blogueiras e as suas palavras ...
. Vai embora, tristeza...
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Já que você chegou
sem aviso,
uma advertência oportuna:
eu não sou boa companhia.
7 de jul. de 2010
6 de jul. de 2010
AVE FRIDA !!!!
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3 de jul. de 2010
palavras...
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Que cai e rola,
Essas palavras secas e sem rédeas,
Sylvia Plath
(Tradução de Ana Cristina Cesar)
30 de jun. de 2010
29 de jun. de 2010
Quatro dias com Cassiano Ricardo ...
28 de jun. de 2010
Quatro dias com Cassiano Ricardo...

Wyeth Andrew .
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Imemorial.
27 de jun. de 2010
Quatro dias com Cassiano Ricardo...
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25 de jun. de 2010
24 de jun. de 2010
Quatro dias com Cassiano Ricardo...
21 de jun. de 2010
Ruy Belo ...
Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
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Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido
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E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
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Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer
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Ruy Belo
(In Homem de Palavra(s), Liboa, Editorial Presença )